Recentemente têm acontecido uma eclosão de discussões sobre
a questão do “roof culture” em alguns grupos de conversa, postagens e
comunidades de praticantes de parkour. Este tema foi evidenciado graças a
acontecimentos recentes que vieram à tona com a participação de alguns
praticantes envolvidos em invasões em vídeos, apreensões, o
triste episódio do enxadrista Russo que faleceu depois de cair de um prédio de
12 andares e volta e meia rola alguma notícia que traga á tona esse tema. O tratamento esdrúxulo e superficial da mídia para com o assunto me
deu uma revolta tão grande (não só com a mídia em si, mas falarei disso mais
tarde) que resolvi abordar o tema com a complexidade e aprofundamento que ele
merece.
Então se você está com pressa, sem tempo para ler agora ou não está com paciência para isso neste momento, salve este link pra mais tarde, pois vou tentar me aprofundar da forma mais complexa que eu conseguir nesse assunto (e talvez nem assim consiga abordá-lo completamente). Tentarei ser o mais direto possível para não parecer difuso, mas de qualquer forma, você provavelmente vai gastar (ou ganhar) um bom tempo lendo esse texto (se chegar até o final).
Então, vamos lá, vamos tentar entender um pouco dessa nova cultura de telhados...
Mas espera um pouco... Nova? Quer dizer que isso não existia antes?
Bom, pra contextualizar um pouco e tentar acabar um pouco com esta confusão de termos (principalmente pra quem não é do “mundo” do parkour) vou explicar brevemente do que se trata o tal do Roof Culture.
É sabido que o parkour consiste em uma preparação física e mental do corpo para lidar com obstáculos no ambiente circundante. É sabido, também, que com o desenvolvimento destes aspectos são poucos os limites físicos que efetivamente consigam nos brecar diante de um caminho. Também, que o traceur é alguém treinado para encontrar formas para lidar com esses limites. É literalmente a arte de encontrar caminhos em meio ao ambiente, superando qualquer obstáculo neste percurso, independente de qual seja.
Além disso, também é usual integrarmos ao treinamento movimentações furtivas e silenciosas. Formas de se deslocar com leveza, fluência e velocidade sem produzir barulhos, excessos ou gasto desnecessário de energia.
Então se você está com pressa, sem tempo para ler agora ou não está com paciência para isso neste momento, salve este link pra mais tarde, pois vou tentar me aprofundar da forma mais complexa que eu conseguir nesse assunto (e talvez nem assim consiga abordá-lo completamente). Tentarei ser o mais direto possível para não parecer difuso, mas de qualquer forma, você provavelmente vai gastar (ou ganhar) um bom tempo lendo esse texto (se chegar até o final).
Então, vamos lá, vamos tentar entender um pouco dessa nova cultura de telhados...
Mas espera um pouco... Nova? Quer dizer que isso não existia antes?
Bom, pra contextualizar um pouco e tentar acabar um pouco com esta confusão de termos (principalmente pra quem não é do “mundo” do parkour) vou explicar brevemente do que se trata o tal do Roof Culture.
É sabido que o parkour consiste em uma preparação física e mental do corpo para lidar com obstáculos no ambiente circundante. É sabido, também, que com o desenvolvimento destes aspectos são poucos os limites físicos que efetivamente consigam nos brecar diante de um caminho. Também, que o traceur é alguém treinado para encontrar formas para lidar com esses limites. É literalmente a arte de encontrar caminhos em meio ao ambiente, superando qualquer obstáculo neste percurso, independente de qual seja.
Além disso, também é usual integrarmos ao treinamento movimentações furtivas e silenciosas. Formas de se deslocar com leveza, fluência e velocidade sem produzir barulhos, excessos ou gasto desnecessário de energia.
Grande parte da prática é composta por desafios auto
impostos. É fundamental que o praticante saiba identifica-los e que isto, de
fato, seja algo desafiador (AVÁ). Com o passar dos anos de treinamento e
aperfeiçoamento não é incomum que os praticantes olhem para a arquitetura em
volta e identifiquem desafios maiores que gostariam de tentar, como um salto de uma
laje para a outra em grandes alturas... ou uma travessia contornando uma
construção por fora... ou simplesmente o desafio de cortar um caminho pelos
telhados no estilo homem aranha sem ser percebido.
Claro que isso não seria bem visto pela sociedade, que já é acostumada com a violência e com a probabilidade de alguém mal-intencionado invadir a sua casa.
Claro que isso não seria bem visto pela sociedade, que já é acostumada com a violência e com a probabilidade de alguém mal-intencionado invadir a sua casa.
Porém isso não vai travar um bando de jovens procurando
aventura e instigados pelas descargas hormonais que uma situação de risco
traz... na verdade quanto maior o risco, melhor. Então desde sempre em algumas
ocasiões os praticantes se reúnem (ou fazem sozinhos mesmo) para tentar
realizar estes desafios de forma rápida e silenciosa. Estes desafios podem ser
inúmeros... desde simplesmente subir em uma laje aleatória pra tentar alguma
movimentação no alto até invasões em grandes fábricas que ofereçam diversas
possibilidades de obstáculos, forçando o praticante a se adaptar rápido na
situação, explorar rapidamente o lugar e sair sem ser pego pelo guarda...
enfim... as possibilidades para estes desafios são infinitas. Como essa
situação requer um certo nível de “invisibilidade”, horários com pouca luz são
mais propícios... então isso costuma acontecer á noite. Por essa razão dava-se
o nome a esse tipo de desafio de “Night Mission” (Missão noturna).
Isso acontece desde as origens do parkour... desde sua
fundação original, e provavelmente deve ter sido um aspecto crucial para a
evolução da mentalidade dos fundadores quando estavam desenvolvendo seu
espírito de grupo e toda a filosofia que estruturaria a prática futuramente. A
própria Parkour Generations reconhece isso.
“[...]A ‘Night
Mission’ deriva de uma forma de treinamento onde os praticantes treinam durante
toda a noite, aproveitando a cidade vazia para explorar e desafiar a si mesmos
por um longo período de tempo. Especialmente os fundadores de parkour
costumavam treinar regularmente assim[...]”
(http://parkourgenerations.com/night-mission-a-look-back/)
Com a
disseminação do parkour pelo mundo é natural que esse desafio fosse perpetuado
como uma tradição. Não tenho conhecimento se alguém chegou a escrever um
‘manual de regras do night mission’ (Se houver, me mandem, por favor) mas essa
tradição era passada adiante como algo que essencialmente não deveria ser
registrada. Por ser algo que se trata de furtividade, e principalmente, por
estarmos entrando em locais proibidos (grande parte das vezes) a coisa toda
deveria ser feita com um altíssimo nível de bom senso para não prejudicar o
local o qual estivéssemos entrando, as pessoas responsáveis por este local e a
nós mesmos. Por esse motivo tínhamos esse certo cuidado de não filmar nem
fotografar esses desafios. Era simplesmente entrar, explorar e sair sem que
ninguém percebesse.
Em meados de 2014
um grande grupo (equipe/crew, como queira chamar) de parkour, a Storror,
publicou um vídeo divulgando o termo “Roof Culture”, onde eles se utilizavam
basicamente da mesma prática porém com uma produção (linda) por trás. Junto com
o vídeo vinha a seguinte descrição: “Dois anos na tomada, nenhuma permissão
concedida. Este projeto segue um grupo de jovens renegados em uma aventura
contra a multidão e com o desejo de lançar luz sobre uma perspectiva e
abordagem diferente para a vida ... Esta é a cultura do telhado (Roof Culture).”
(Segue o link para o vídeo original https://www.youtube.com/watch?v=o16CcUauSYA ).
O alcance dos
caras foi bizarro e o termo viralizou de forma absurda. Mesmo isso não sendo
algo novo, a “nova cara” das night missions veio com uma nova abordagem
tentadora e desafiadora para os praticantes que eram incentivados a “juntar-se
a cultura”.
Essa forma de
desafio vem sido perpetuada de geração para geração dos praticantes de Parkour
tanto inter quanto nacionalmente, e com a divulgação do vídeo dos caras da
Storror o termo ‘Roof culture’ foi amplamente adotado.
Eu vou utilizar
durante esse texto o termo “roof culture” simplesmente por ser a forma mais
atual de se dirigir a esse tipo de abordagem, mas não vejo qualquer diferença
significativa da idéia das “night missons” que aconteciam muito antes da
disseminação dos Storror’s boys. (Caso haja alguma diferença na filosofia dos
dois termos, fico aberto aqui a corrigir isso, porém eu não encontrei nada a
respeito... De qualquer forma a prática é basicamente a mesma, então isso é
irrelevante para o desenvolvimento da ideia a seguir).
A grande
problematização a respeito do assunto parte das seguintes questões:
“Roof Culture é Parkour?”
“Roof Culture é Parkour?”
“é certo praticar
o Roofculture?”
Bom.... pra
responder a primeira pergunta é necessário que você leia antes este texto.
Sinto informar os
fundamentalistas e românticos de plantão... mas sim, pode ser sim.
Como já dito
anteriormente, o conceito de subir em locais proibidos e se desafiar sem nas
alturas das construções enquanto tenta não ser visto, existe na mentalidade dos
praticantes muito antes de você sequer pensar em começar a treinar. Além disso,
se a pessoa identifica na sua prática a possibilidade de subir em telhados
alheios, fazer invasões e desafios nas alturas de propriedades privadas, então
aquilo continua sendo uma expressão dos conceitos que, naquela concepção,
formam a idéia do que é Parkour na interpretação daquela pessoa.
E o contrário
também pode ser verdade, pode ser que a pessoa suba nos telhados só pra tirar
fotos e fazer videos e não considere aquilo Parkour... que considere a questão do Roofculture
algo alheio á prática do parkour. Tudo depende de como o praticante está vendo
e entendendo aquilo que ele está vivendo.

Não cabe a você
ponderar sobre o que é ou não o parkour de outro praticante. Apenas a própria
pessoa pode fazer isso sobre as suas respectivas razões, motivações e
concepções. O máximo que você pode fazer é argumentar com ela sobre a sua conceituação
do que é parkour, caso você tenha bons argumentos e esta pessoa considere-os
válidos, ela mesma mudará seu olhar sobre suas próprias atitudes. Mas isso deve
partir unicamente dela.
De qualquer forma, existe sim a possibilidade da pessoa integrar o roofcult como parte da sua concepção de parkour.
De qualquer forma, existe sim a possibilidade da pessoa integrar o roofcult como parte da sua concepção de parkour.
PORÉM....
Não é por isso
que a prática do Roofculture se torne boa ou algo que deva ser incentivada. O
simples fato de isso poder ser considerado como parkour não o torna
automaticamente justificável ou certo. O que me leva a última parte da
reflexão... e a segunda pergunta.
“é certo praticar
o Roofculture?”
Bom, eu tenho a minha opinião formada sobre isso. Mas sei que existem pontos levantados de ambos os lados que de forma geral dividem os praticantes... Eu vou tentar me manter o mais neutro possível e analisar alguns argumentos “pró” e “contra” se praticar a cultura de telhado. Acredito que seja mais coerente apresentar ambos argumentos ao invés de cuspir as minhas opiniões aqui como regra.
Argumentos Pró
-O nível de
auto-desafio é verdadeiramente alto.
-O fator “ilegal”
torna a coisa toda bem tensa, o que coloca o sua capacidade de reagir em uma
situação adversa á prova na prática.
-Os fundadores se
utilizavam de invasões pra treinar também
-Nós não
incomodamos ninguém, só entramos e saímos sem ninguém perceber.
-Eu não concordo
com a lei, vai falar que você não baixa uns filmes piratas também?
-Se não fizermos
desse jeito então não vamos poder treinar nos lugares que queremos
-Eu sou livre pra
treinar onde eu quiser.
-Você só estará
praticando parkour de verdade se se colocar á prova.
Antes de entrar
no escopo real dos “argumentos contra” a prática eu gostaria de rebater os
argumentos que eu sinceramente considero incoerentes vindo daqueles que se
consideram a favor e também evidenciar aqueles que eu julgo
coerentes.
“-O nível de
auto-desafio é verdadeiramente alto.”
Sim, de fato é.
Quem já praticou sabe o quanto é desafiadora a idéia de se movimentar no “modo
stealth”. Bem diferente de se treinar em lugares públicos.
“-O fator
“ilegal” torna a coisa toda bem tensa, o que coloca o sua capacidade de reagir
em uma situação adversa á prova na prática.”
Também vou ter
que concordar com isso. Se colocar numa situação de perigo real trabalha
capacidades de agir com altas descargas de adrenalina de uma forma bem
interessante. Algo que também é bem diferente de treinar em lugares onde você
não ligaria de ser visto ou poderia tentar 2, 3 ou mais vezes. E essa
experiência tem a capacidade de trabalhar seu auto controle de uma forma que
dificilmente seria trabalhada em uma situação mais controlada ou ‘legal’.
“-Os fundadores
se utilizavam de invasões pra treinar também”
Este é um ponto
que considero completamente fraco. E pra isso vou utilizar uma reflexão que
provavelmente sua mãe já usou muito com você. – “Se os fundadores comessem cocô você
também comeria?” O simples fato dos criadores terem feito esse tipo de coisa
não é um bom argumento para fazer também. Os fundadores do Parkour no início do
desenvolvimento da prática eram jovens, inseridos em localidades hostis, sem
opção de lazer, que tentavam encontrar nos seus bairros desafios para ocuparem
seu tempo, tornarem-se mais fortes e não entrarem no mundo da violência que
tomava conta dos subúrbios onde viviam. Não haviam clubes, academias e projetos
sociais onde eles pudessem fazer isso. Era uma outra realidade, um outro contexto.
Além disso, eu não saberia dizer como era o ambiente socio-cultural do local na
época em que os fundadores costumavam praticar, mas durante o documentário
‘Geração Yamakasi’ o Designer Urbano Elio Conen Boulakia explica como foi feita
a distribuição urbana dos bairros periféricos de Paris, como a idéia era de
criar um lugar onde as pessoas pudessem viver, trabalhar e encontrar lazer e
cultura aonde moravam, um espaço que visasse a diversidade social... várias
pessoas de culturas diferentes compartilhando um mesmo espaço, crianças pobres
e ricas vivendo no mesmo local... a idéia era de minimizar as diferenças de
classes. O estado decidiu então que eles viveriam acima da estrada em lajes de
concreto, pois para a arquitetura da época, isso era visto como algo bom ou
positivo. Contudo as obras não foram terminadas por conta de uma forte crise da
época e o máximo que fizeram foram conjuntos habitacionais, que só isolavam e
excluíam as pessoas ainda mais. Ele fala sobre como as pessoas não queriam
viver naquilo, e como isso afetou a identificação das pessoas em viverem em
algo que de fato fosse delas, por conta de um constante sentimento de
insegurança. Chama ainda a situação habitacional na região depois de 10 anos
(época na qual o documentario foi gravado) de vergonhosa. Isso tudo obviamente
refletia na criação de uma identidade das pessoas com os locais onde habitavam,
e claro, os meninos da arte do deslocamento buscavam em meio aquela situação de desequilíbrio das pessoas com seus lares, buscar o lazer e os desafios que não tinham de outras formas. Afinal o estado
nem sabia que eles existiam (ou não ligavam, não sei).
Você comparar
isso com o cenário nacional do Parkour hoje é uma burrice. Hoje nós temos
liberação pra treinar em espaços públicos, a atividade é cada vez mais
reconhecida pelo estado e pela sociedade, temos até a criação de espaços
construidos especificamente para a nossa prática. Algo completamente UTÓPICO na
época da criação do Parkour. Então não use esse argumento, pois a sua realidade
é COMPLETAMENTE diferente da realidade existente durante as fundações da
prática. Você tem opções... os jovens daquela época não necessariamente.
(também explicado no vídeo do Bruno Peixoto).
“-Nós não
incomodamos ninguém, só entramos e saímos sem ninguém perceber.”
Será? Como você
pode ter 100% de certeza que seu barulho não está incomodando ou assustando a
pessoa que vive naquele local? Como você pode ter absoluta certeza de que não
tem um senhor assustado te olhando da janela de seu apartamento mais a frente?
Como você pode ter certeza que esse senhor não conhece alguém do prédio que
você está subindo, que ligue para esta pessoa e deixe essa pessoa assustada
dentro da própria casa? Tudo isso pelo simples luxo de fazer o que você quiser
sem se preocupar se isso realmente desrespeita outras pessoas?
A verdade é que
não dá pra saber se você está ou não sendo visto, e por mais cuidado que você
tenha, sempre existe a chance de alguém se incomodar com a sua presença ali.
Nem estou entrando no mérito do risco real de você se machucar na casa dos
outros, porque isso é um problema seu. Mas além disso, você pode também machucar
alguma pessoa que não saiba que você está ali, e passe pelo lugar sem que você a
veja no momento de fazer um move... As chances de você achar que não está
incomodando ninguém, mas na verdade estar são MUITO grandes simplesmente porque
as variáveis e possibilidades são gigantescas.
Isso tudo tirando
o fato de você estar em um lugar que não é seu. Um lugar sobre o qual não tem a
liberação pra estar. Só isso já configura um desrespeito á propriedade
alheia... então se você acha que invasão não é incomodar? Amigo, reveja seus
conceitos, pois até onde eu consigo enxergar, desrespeito é uma forma de
incomodar sim.
Isso sem falar nas pessoas que atualmente fazem isso justamente pra ganhar views e likes no youtube... o que claramente vai contra esse argumento de “não somos vistos”... essa galera QUER ser vista.
Isso sem falar nas pessoas que atualmente fazem isso justamente pra ganhar views e likes no youtube... o que claramente vai contra esse argumento de “não somos vistos”... essa galera QUER ser vista.
“-Eu não concordo
com a lei, vai falar que você não baixa uns filmes piratas também?”
Bom, tenho que
admitir que este é um argumento plausível, apesar de não concordar totalmente
com a idéia por trás dele.
É fato que a
existência de uma lei que proíba alguma determinada ação não necessariamente a
configura como ‘certa’ ou ‘errada’. E não é necessariamente porque as coisas
estão na lei que não devam ser questionadas.
Pra isso a
humanidade desenvolveu ao longo da história um conceito chamado “Ética”. Que é
justamente a capacidade de se refletir formas de se conviver melhor em
sociedade. Importante dizer aqui que as reflexões éticas e morais só existem,
porque existe também o conceito de liberdade. Liberdade que se define como a
capacidade de um indivíduo agir como bem entender, de acordo com a própria
vontade sem restrições externas (Este é um tema extremamente relevante pro Parkour
e em breve farei um texto mais especifico sobre isso).
Cada pessoa tem
liberdade para agir como bem entender, mas pelo bem da convivência em
sociedade, nó buscamos nos organizar e pensar formas de conduta que não
desrespeitem a vida e o espaço de outro indivíduo. A essa reflexão, damos o
nome de ética. Nem sempre o que é anti-ético é contra a lei, e nem sempre o que
está na lei é anti-ético.
Mas eu
sinceramente não vejo como esse argumento conseguiria ter relevância... Afinal
um erro nunca justificará outro erro, e o fato de alguém fazer algo errado não
te dá o direito de fazer também. Então se sua idéia é baseada somente nisso,
saiba que você não apresentou nenhum argumento consistente pra defender seu
ponto... apenas está dizendo “Se todo mundo faz errado, eu também posso” e nem
preciso dizer o quanto isso está moralmente equivocado.
“Se não fizermos
desse jeito então não vamos poder treinar nos lugares que queremos/Eu sou livre
pra treinar onde eu quiser.”
Bom tanto um
quanto o outro argumento incorre no mesmo ponto. A questão do ‘querer’.
Esse argumento
falha quando você começa a pensar que nem tudo que você quer, você pode e/ou
deve fazer. Você colocar suas vontades pessoais acima dos valores sociais
simplesmente para satisfazer o seu ego é uma arrogância bizarra. A isso damos o
nome de ‘egocentrismo’, que por definição é “uma exaltação excessiva da própria personalidade,
fazendo com que o indivíduo se sinta como o centro da atenção.” (https://www.significados.com.br/egocentrismo/). Obviamente essa não
é uma conduta admirável em uma pessoa que preza por valores comunitários, então
se você age como se sua vontade é maior do que o direito de outra pessoa (no
caso, o direito à propriedade), desculpe, mas você não é só um moleque
revoltadinho, deve ter algum transtorno sociopata, eu recomendaria sinceramente
que você buscasse uma ajuda profissional pra se tratar. Se não for esse o caso,
então você é só um mimadão mesmo que não tem maturidade para assumir as
falácias e erros nas suas próprias atitudes. E se não tem a capacidade para
respeitar o convívio em sociedade então talvez seja melhor reunir suas coisas e
ir viver longe das pessoas, onde seus atos não incorram no desrespeito a
propriedade de outrem.
“Você só estará praticando parkour de
verdade se se colocar á prova.”
Esse é o típico
discurso de quem realmente não tem argumento nenhum para validar sua opinião. É
a clássica falácia do escocês (deixarei links explicando melhor do que se
trata) que consiste em uma desonestidade argumentativa de tentar deslegitimar
um determinado aspecto de um indivíduo afirmando que “Os verdadeiros X não agem
assim” ou “Se você não age assim, então não é um verdadeiro X.”. Como se
existisse um ‘Parkour de verdade’ e um ‘Parkour de mentira’. Se você ouvir
alguém falando algo do tipo, corra para as montanhas, pois esse é um exemplo
clássico de um argumento de mentirinha utilizado por fundamentalistas para
tentar passar a idéia de que sua ideologia é perfeita, livre de erros e
construído só com pessoas que concordam com ele. Não existe esse negócio de ‘Parkour de
verdade’... existe Parkour, e inúmeras maneiras de interpretá-lo.
A verdade é que
existem infinitas possibilidades dentro do Parkour. E a exploração em picos na
altura do chão e em lugares permitidos pode ser tão incrível quanto uma exploração
nas alturas... só é necessário criatividade. Claro que não excluo o fato de que
existem variáveis nas invasões que são muito mais evidenciadas nessa situação
do que nos treinos sem esse tipo de abordagem (como já disse antes), porém a
nossa prática é tão polivalente, tão cheio de possibilidades... que essas
variáveis são facilmente contornadas se você souber usar o ambiente e ser
criativo, e se você acha que isso é mentira, vou deixar linkado aqui embaixo alguns
vídeos que mostram o quanto um treino pode ser impressionante mesmo sem
precisar subir em um lugar ilegal.
( https://www.youtube.com/watch?v=VafIjR4o-J0
( https://www.youtube.com/watch?v=VafIjR4o-J0
Conclusão (?)
Enfim, o que
quero dizer com tudo isso? Eu particularmente sou pró roof-culture? Sou contra?
A resposta pra essa pergunta é: Depende.
A resposta pra essa pergunta é: Depende.
Eu sei que essas
situações e esses desafios podem ensinar muito ao praticante. Sei também o
quanto é incrível a sensação de se sentir completamente autônomo e livre dentro
do espaço em que se vive, afinal, isso é o básico do Parkour, não é mesmo?
Sei também que um
praticante sério, que tenha uma boa capacidade de reflexão e mantenha os
valores da prática vivos dentro de si conseguem manter essa prática
completamente controlada sem necessariamente lesar, incomodar ou assustar outra
pessoa.
O trabalho duro,
dedicação aos treinos, disciplina, foco, controle, consciência, respeito e bom
senso levam, com o tempo, o praticante a se tornar extremamente experiente no
que tange a questão de desafiar-se em níveis mais arriscados, e sei que essa
progressão pode ser feita de uma forma segura.
Porém, é
completamente diferente um praticante experiente, com anos de treino, vez ou
outra, se desafiar em silêncio, por conta própria, ciente de todas as
responsabilidades dos seus atos e pronto para assumi-las com honra e humildade
caso algo dê errado, de um moleque sem experiência que quer subir no alto de um
prédio para tirar fotos e fazer alguns vídeos no alto de um prédio só pra “ser
radical”. São situações completamente diferentes entre si... e independente da
situação é imprescindível sempre lembrar que: INVASÃO É CRIME!!! (Artigo 161 do
Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940) e fere o Artigo 5º da
constituição federal, que diz respeito ao direito sobre propriedade. Então
sim... independente dos seus argumentos, invadir fere o direito de outra pessoa
e isso incorre em um crime. Esteja consciente das suas escolhas e de suas
consequências, e mais do que qualquer coisa, assuma sua responsabilidade sobre
suas atitudes (isso é o mínimo).
E é aqui que eu
quero apontar a principal crítica a respeito deste tema, e meus "argumentos contra".
Alguns praticantes que se julgam experientes tem cada vez mais agindo com irresponsabilidade. A prática da cultura de telhados é uma faca de dois legumes... Ao mesmo tempo que é interessante pros praticantes de parkour, também é interessante para não praticantes de parkour... e essas pessoas podem estar mal intencionadas. Ao pluralizar e democratizar essa situação, você dá a essa pessoa a condição de, ao ser pega em flagrante, se utilizar do argumento “estou apenas praticando parkour”. E fica muito difícil (pelas razões conceituais que já citei) afirmar se aquilo é ou não verdade.
Alguns praticantes que se julgam experientes tem cada vez mais agindo com irresponsabilidade. A prática da cultura de telhados é uma faca de dois legumes... Ao mesmo tempo que é interessante pros praticantes de parkour, também é interessante para não praticantes de parkour... e essas pessoas podem estar mal intencionadas. Ao pluralizar e democratizar essa situação, você dá a essa pessoa a condição de, ao ser pega em flagrante, se utilizar do argumento “estou apenas praticando parkour”. E fica muito difícil (pelas razões conceituais que já citei) afirmar se aquilo é ou não verdade.
Você que publica
videos esperando por fama e views está dando ferramentas para pessoas mal
intencionadas usarem, ás vezes, contra você mesmo. Acha que eu estou exagerando?
Então dá uma olhada nessa notícia. (fonte: http://www.midiamax.com.br/policia/invade-residencias-comercio-alega-manobras-parkour-335987
).
Além disso, você
se torna o exemplo de muita molecada que vai achar que seguir o seu exemplo é o
certo. Essas crianças não tem o mesmo preparo que você, e na cabeça delas, o que
elas estão fazendo é Parkour. Assim como nos influenciamos em grande parte pelos videos que vimos na internet, seus videos também podem servir como referência pra outros. A responsabilidade sobre a influência que você
causa em alguém é totalmente sua. Então se você acha legal ganhar view a troco
de futilizar a prática dessa forma, então saiba que notícias como essa: https://www.facebook.com/cidadealertaes/videos/949740721803108/ , podem SIM ser responsabilidade sua, e não adianta tentar se isentar de
culpa.
Enfim, o que eu concluo disso tudo é que:
- Roofculture é algo que chama sim muitos views e likes, porém eu não considero saudável e nem inteligente usar isso como foco para divulgar ou difundir o parkour.
- A cultura, na
minha opinião, deve ser algo que, caso seja feita, deve ser apenas por praticantes
experientes que tenham senso de responsabilidade e honra para arcar com as
consequências de seus atos. E não por praticantes que só querem chamar a
atenção, mesmo porque isso é extremamente arriscado.
- Caso o
praticante ainda assim escolha fazer, os registros dessas situações devem ficar
apenas com os envolvidos, e não popularizado para acesso irrestrito de qualquer
pessoa que possa interpretar e se influenciar negativamente com aquilo.
- “Grandes
poderes trazem grandes responsabilidades” e você “torna-se eternamente
responsável por tudo aquilo que cativas”, portanto, tome cuidado com o tipo de
informação e influência que você passa, e mais do que isso, com o exemplo de
praticante que você é.
- É necessário
que o praticante desenvolva capacidade e responsabilidade autocrítica para
refletir sobre o que é coerente fazer com a sua prática e o que não é. E disso,
o que é conveniente divulgar e o que não é.
- Todos os
praticante tem (ou deveriam ter) a responsabilidade de representar a prática de
uma forma positiva, contribuindo para que possamos ser cada vez mais aceitos na
sociedade e construindo um estereótipo do praticante de parkour como alguém respeitoso,
ético, controlado e amigável, favorecendo o desenvolvimento da atividade como
algo positivo.
- Eu não tenho
competência pra julgar a interpretação da prática de cada um, mas eu tenho
plena certeza que esse oversharing de vídeos colocando o Parkour como algo “radical”
e inconsequente não são benéficos para o desenvolvimento da prática como algo
saudável.
Acho que era esse
os 5 centavos sobre o assunto que eu tinha pra compartilhar.
Espero que tenha contribuido em algo para a discussão, que as pessoas tomem responsabilidade sobre suas ações e que daqui pra frente, encontram-se novas formas de divulgar o Parkour, sem precisar se utilizar de futilidades e guerrinhas de ego para tal.
Bons treinos, Abraço.
Espero que tenha contribuido em algo para a discussão, que as pessoas tomem responsabilidade sobre suas ações e que daqui pra frente, encontram-se novas formas de divulgar o Parkour, sem precisar se utilizar de futilidades e guerrinhas de ego para tal.
Bons treinos, Abraço.
Atenciosamente,
Um Traceur.
Você é um poeta!
ResponderExcluirAcho que você podia só enumerar as referências pra facilitar a busca na citação.
ResponderExcluirfora isso ta perfeito!