Pesquisar este blog

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

#4 - Parkour e escolhas (Desabafo)

Querido Diário, hoje estou escrevendo com um propósito completamente diferente do habitual. Ao invés de passar uma idéia baseada em um método mais científico, cheio de referências, resolvi exercitar um pouco meu poder de raciocínio filosófico e escrever algo mais direcionado a uma opinião.

Estive pensando em escrever algo do tipo a um tempo, mas o que me motivou a concretizar essa idéia foi uma conversa que tive com um amigo sobre nossas escolhas.

Tenho visto alguns iniciantes reclamarem de serem alvos de críticas quando começam a treinar sozinhos, e por pressão dos pais, amigos, vizinhos e a sociedade como um todo acabam por desanimar e desistir de treinar. Este texto é uma forma de tentar explicar e entender o que acontece e de compartilhar um jeito de se motivar mesmo frente a um mundo preconceituoso e reacionário, afinal, se alguém decide se aventurar para embarcar em uma nova jornada, acho justo deixá-lo ciente do que você pode vir a passar. Talvez algo neste texto te ajude a refletir e construir argumentos para dialogar daqui pra frente.

 Estando presente em uma prática que é alvo de constante preconceito por parte dos desinformados e até mesmo uma certa agressividade por parte de outros eu já estou calejado no que diz respeito a críticas e tentativas externas de me fazer desistir das escolhas que eu fiz e faço. Então aqui vai um ponto de vista de alguém que ainda sofre essas mesmas pressões que você, meu caro iniciante.

Vejo hoje uma sociedade cômoda em acreditar que as escolhas feitas pela maioria são irrefutavelmente as melhores a serem tomadas. A descrença em algo que é novo e segue a contramão do status quo é nítida, e em grande parte das vezes esta descrença é baseada no simples fato daquilo ser diferente. Tomo como exemplo as “famílias tradicionais”, que acreditam que qualquer coisa diferente do que a maioria diz seguir é, automaticamente, uma abominação. Infelizmente esse exemplo é o que representa hoje uma enorme parcela da sociedade que prega que o “certo” é convenientemente fazer o que todos fazem. Eu costumo chamar essas pessoas reacionárias de “moda”. E isso abrange todas as culturas de tal forma que conseguimos até caracterizar um padrão. Pessoas sem uma mentalidade própria, que simplesmente replicam argumentos usados por outros, seguem uma linha industrial robótica desde a maneira de se vestir até a maneira como enxergam a vida e a si mesmos. Esses ‘modas’ são a principal força que faz com que mudanças na sociedade aconteçam de forma tão lenta ao longo dos anos (em alguns casos essa resistência é até positiva, mas vou generalizar).

O problema em questão não é a opinião pessoal em si, na verdade ele começa quando pessoas que vivem na própria concha de comodismo pregam categoricamente que as outras pessoas devam fazer o mesmo. Sair da zona de conforto social não é algo simples e nem fácil, mas gostaria aqui de rebater algumas idéias que tenho visto serem replicadas quase sistematicamente, e que no meu ponto de vista, não são saudáveis para o bom convívio e mesmo para o desenvolvimento da sociedade em si.

 Fórmula do sucesso ou fórmula da felicidade

As pessoas tem o costume de buscar fórmulas mágicas que ensinem como ter sucesso em suas carreiras ou em suas vidas, ou pior, tentam pregar religiosamente que algo da certo ou errado UNICAMENTE pelo fato de ser a maneira como ELA, e somente ela, fez. Como exemplo vou usar a questão dos concursos públicos. Eu duvido que alguém com mais de 20 anos nunca tenha ouvido de outras pessoas como é bom passar em concurso público, ter estabilidade na profissão e toda essa papagaiada. De fato, concurso público é uma forma de se levar a vida, e muitas pessoas com certeza se deram bem e são felizes dessa forma. MAS ISSO NÃO ESTABELECE UMA REGRA. Não é porque uma pessoa é feliz sendo funcionário público que outra também vai ser. Ás vezes tudo que a pessoa quer é tentar ser autônoma, tentar construir a vida independendo do governo. E o contrário também é real, não é porque uma pessoa não deu certo na vida de funcionário público que isso não seja possível.

A grande verdade nessa história é que NÃO EXISTE UMA FÓRMULA. Já ouvi até argumentos do tipo: “Mas você tem mais probabilidade estatística de ter estabilidade em um concurso do que como autônomo” (seguindo o mesmo exemplo anterior). E ainda que mostrem inúmeros dados (se é que existem) ou exemplos que corroborem com este argumento a verdade é que VIVER NÃO É UMA CIÊNCIA EXATA. Nós somos seres humanos completamente diferentes individualmente, existe algo chamado individualidade biológica, que prova por A + B que cada ser humano é diferente biologicamente. Além disso nenhuma pessoa nasce, cresce e se desenvolve de maneira igual. Somos educados de forma diferente e passamos por experiências diferentes em nossas vidas, além do que, temos capacidade de aprender e mudar nossas opiniões no decorrer dos anos. Ou seja, O QUE DA CERTO PRA UM, NÃO NECESSARIAMENTE DA CERTO PRA OUTRO. Quer outro exemplo de que viver não é uma ciência exata? Então vamos lá, imagine agora que você conheceu uma pessoa e se apaixonou, você quer namora-la, mas antes tem que confiar nela. Como saber que essa pessoa não te trairia, por exemplo? Tem como ter certeza? Óbvio que não, afinal você não prevê o futuro (Caso preveja, me add no facebook, quero saber qual o resultado da próxima mega sena). O que dá pra fazer então? No máximo reunir dados que forneçam uma análise de probabilidade. Você pode fazer um exame no indivíduo pra ter noção de um perfil psicológico dele, se ele tem uma pretensão maior ou menor a mentir ou coisa parecida. Ainda pode pesquisar o histórico da pessoa para saber se ela já traiu em algum outro namoro anterior, quantas vezes.... etc. De uma maneira geral você terá bons indícios para deduzir qual a chance dessa pessoa te trair, afinal você tem uma base estatística que fomentam essa possibilidade, certo? ERRADO! Você está desconsiderando totalmente que a pessoa em si pode mudar, pode amadurecer, então mesmo que essa pessoa tenha traído todos os namorados antes, agora ela pode estar mudada, pode ainda amar você muito mais do que amou aos outros e ser a pessoa mais tranqüila do mundo ao seu lado. E o contrário também é verdade, mesmo que ela nunca tenha traído antes nada garante que ela não vá te trair. Ás vezes, mesmo com um bom histórico, ela depois de um ano de namoro, sai com as amigas e conhece o Brad Pitt... ela nunca traiu antes, mas naquela noite... (É o Brad cara, até eu pegaria ele). Enfim, entenderam o raciocínio. Nós não podemos prever o futuro, e quando falamos na vida cotidiana nem a estatística pode definir nada, porque as situações mudam, as pessoas mudam e o que era bom em um dia, pode não ser no outro.

Mas então como saber se você pode ou não confiar em alguém?
Aí que tá, você nunca sabe.

 Confiar diz respeito unicamente em assumir um risco, em uma escolha individual seguindo o que vc acredita ser certo naquele momento. Não tem como prever nada, e se tiver que tomar na bunda porque escolheu errado, você vai tomar. MAS ainda que você não conheça pessoas próximas de você que se aventuraram em algo novo e venceram, saiba que você sempre pode ser o primeiro. Mas esqueça completamente essa idéia de “tem algo maior esperando por mim”, não crie expectativas, pois se não há maneiras de assegurar o seu fracasso baseado em estatísticas ou deduções, também não há certeza de sucesso. Confiar é saber que se arriscou, mas o que vai realmente dizer se você irá ou não vencer é apenas o quanto você está disposto a ir até o fim por uma determinada causa, ou, o quão determinado você é.

Então saiba que vivemos numa sociedade que vai te apontar dedos e te julgar. Afinal enquanto todos seguem os mesmos caminhos, nós trilhamos os nossos. Enquanto todos andam na rua olhando pra frente e pra baixo, nós olhamos pra cima pros lados pra trás e pra todas as direções imaginando a infinidade de possibilidades que a cidade te oferece. Convenhamos, nós somos os estranhos. O que fazemos é diferente, e as pessoas normalmente tem medo do que não conhecem, logo, se você se sentir julgado ou rotulado de algo que você não é, acredite, a maioria de nós já passou por isso também.

Por isso, caro traceur, se está disposto a correr o risco de confiar no que você acredita ser certo, então estude muito, treine muito, trabalhe muito. Você vai errar muito, tomar um milhão de portas na cara e vai ser expulso de vários picos, vai tomar abordagens violentas de policiais despreparados e vai ser muito julgado. Mas seu respeito vai ser construído a cada treino, a cada postura tomada ao receber um ‘não’, a cada hora de estudo perdida para construir um argumento melhor e melhor, na sua determinação e na disciplina que terá ao encarar a vida real com o seu espírito traceur.

Lembre que escolher seguir um caminho não é fácil, sair da zona de conforto é mais difícil ainda, lutar contra a maré é ainda mais hardcore e somente vai descobrir o que significa a palavra "persistência" quando tiver passado por tudo isso.


Espero ter contribuído em algo, não desistam, e bons treinos.



Atenciosamente, Um Traceur.